ABRACE ESSA CAUSA!


Os efeitos da aids na vida de crianças e adolescentes brasileiros são devastadores. A doença afeta a saúde dessa população quando são infectados pelo HIV através da mãe e compromete sua estrutura familiar quando ficam órfãos em decorrência da aids.

O Adoção PositHIVa é um livro-reportagem que retrata a dificuldade que crianças e adolescentes abrigados em casas de apoio de Curitiba enfrentam na adoção por serem portadores do HIV. Alguns deles são órfãos, outros foram abandonados pela família. A adoção para eles representa a esperança de uma vida nova, a possibilidade de reconstruir ou construir uma família, onde serão amados e poderão conviver com o HIV de uma forma mais feliz.

Entretanto, adoções de crianças portadoras de HIV/aids são muito raras, as de adolescentes mais ainda. O Adoção PositHIVa apresenta-se como uma fonte de informação sobre adoção, aids e as possibilidades quando esse fatores se encontram. Além de informar, esse livro visa quebrar as barreiras que impedem uma ADOÇÃO POSITIVA!

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Adoção: "Também queríamos filhos biológicos, mas os do coração sempre foram prioridade"

A servidora pública Josie Menezes Pretto, 39, conta sobre a espera pela chegada do filho Gabriel, 3

Josie ao lado do marido Giorgio e do filho Gabriel (Foto: Arquivo pessoal)
"Desde pequena, sempre tive certeza de eu seria mãe por adoção. Quando conheci o Giorgio, hoje meu marido, eu logo avisei que só casaria com quem estivesse disposto a compartilhar esse sonho comigo. Mesmo sem nunca ter pensado na ideia, ele foi super receptivo e teve o coração totalmente aberto para isso.

Anos depois, decidimos que era a hora de ter filhos. Ao mesmo tempo em que “liberamos”, entramos com o processo de adoção. Nem esperamos para saber se a gente teria ou não condições de gestar uma criança. Como tínhamos consciência de que o processo de adoção era demorado, nos programamos para ter os biológicos nesse meio tempo, enquanto nosso filho do coração não chegava.

Tentamos e vimos que não ia dar por meios naturais. Arriscamos inseminações artificiais e fertilizações in vitro para “passar o tempo”. A ideia era que o filho do coração fosse o caçula. Inicialmente, pensamos em adotar bebês de até 2 anos. Depois, aumentamos a faixa etária. Sabíamos que a espera fazia parte. É um caminho legal, curtimos bastante: comprávamos roupinhas, bem devagar, um pouco de cada coisa. Ficamos mais de 6 anos na fila do Cadastro Nacional de Adoção.

Josie e Giorgio fizeram um ensaio fotográfico para recepcionar o filho (Foto: Arquivo pessoal)
Eu sempre soube que o dia do telefonema ia ser o dia mais feliz da minha vida. E foi. 

Alguns dias antes, meu pai veio para Joinville fazer um tratamento de saúde. Passei toda a manhã cancelando nossa viagem de férias e esperando ligações do convênio referentes a autorizações de exames e procedimentos do meu pai. Creio ter sido o primeiro dia, em quase sete anos, que não tive cabeça para pensar: "Será que o telefone vai tocar hoje para dizer que somos papais?" Eu só pensava no meu pai. Antes de sair de casa, meu marido disse que teria um dia cheio. Almoçamos (meus pais, minha irmã e eu) e fui lavar a louça. Quando ouvi o toque do meu celular, larguei tudo e atendi rapidamente sem olhar o número, certamente era do convênio.

O diálogo foi o seguinte:
- Alô?
- Alô, quem fala?
- É a Josie.
- Você e seu marido estão há mais de seis anos na fila da adoção, não é? Então, chegou a vez de vocês! Parabéns, mamãe!! É um menino lindo de 1 ano e 5 meses.

A sequência, vocês podem imaginar. Depois de uma notícia super triste do meu pai, veio a notícia que a família mais esperava. Eu chorava compulsivamente. Sempre pensei que o dia em que isto acontecesse eu iria comprar uma peça de roupa de bebê, fazer uma cartinha e ir até o hospital em que o Giorgio estivesse trabalhando para fazer uma grande surpresa. Que nada. Na hora eu só pensei: ele tem um dia cheio e eu vou garantir que ele saia até a hora marcada para estarmos no fórum. 

Então, liguei para ele:
- Alô, papai!
- Hã, o que tem o seu Josué?
- Chegou a nossa vez! Nós somos papais de um menininho de 1 ano e 5 meses!

Ele demorou tanto para reagir, que achei tivesse desmaiado ou caído a ligação. Até que soltou um: "Eu não acredito!"

(Foto: Arquivo pessoal)
No outro dia, fomos conhecer o Gabriel. E naquele momento vimos que tinha que ser ele. O amor foi apenas personificado, tomou forma e direção, pois já estava dentro de nós desde sempre. Amávamos aquele menino há milênios. A empatia foi total. Sob a orientação da psicóloga, brincamos com ele, demos almoço e ficou combinado de que a guarda deveria sair mais ou menos uma semana depois. Aí veio a surpresa: nos ligaram dizendo que, diante do nosso entrosamento maravilhoso já à primeira visita, elas tinham conversado com a equipe da vara da infância para liberarem a guarda do Gabi para nós no dia seguinte. 

Tivemos que passar a noite no shopping comprando tudo o que faltava para o enxoval. Não vivi a emoção de preparar as coisas com toda a calma para um recém-nascido, ao longo de 9 meses. Mas posso dizer que vivi intensamente a experiência de montar um enxoval completo literalmente da noite para o dia. Com a ajuda impagável da minha mãe e da minha irmã caçula.

Quando levamos o Gabi do abrigo para casa, ele dormiu nos meus braços pela primeira vez. E, neste momento em diante, não é que não importava que eu não o tivesse gestado na minha barriga. Eu tinha, sim, gestado, amamentado, presenciado seus primeiros passos, acompanhado o nascimento do seu primeiro dentinho, segurado a sua mãozinha em todas as vacinas. Eu tinha feito tudo. Daquele momento em diante eu era uma mãe plena. Eu havia vivido tudo aquilo. Ele é meu e sempre foi. Este pedacinho de gente me pertence e eu a ele desde sempre. Não sinto falta de nada. Sou uma mãe completa. Hoje posso dizer que o amor que vem da adoção é tão grande quanto o sentimento de gerar um filho."

Por Depoimento a Giovanna Forcioni - atualizada em 21/05/2018 15h48

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