ABRACE ESSA CAUSA!


Os efeitos da aids na vida de crianças e adolescentes brasileiros são devastadores. A doença afeta a saúde dessa população quando são infectados pelo HIV através da mãe e compromete sua estrutura familiar quando ficam órfãos em decorrência da aids.

O Adoção PositHIVa é um livro-reportagem que retrata a dificuldade que crianças e adolescentes abrigados em casas de apoio de Curitiba enfrentam na adoção por serem portadores do HIV. Alguns deles são órfãos, outros foram abandonados pela família. A adoção para eles representa a esperança de uma vida nova, a possibilidade de reconstruir ou construir uma família, onde serão amados e poderão conviver com o HIV de uma forma mais feliz.

Entretanto, adoções de crianças portadoras de HIV/aids são muito raras, as de adolescentes mais ainda. O Adoção PositHIVa apresenta-se como uma fonte de informação sobre adoção, aids e as possibilidades quando esse fatores se encontram. Além de informar, esse livro visa quebrar as barreiras que impedem uma ADOÇÃO POSITIVA!

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Dia Nacional da Adoção

Crianças 'fora do perfil' crescem à espera de uma família, mostra guia online

Crianças disponíveis para adoção em abrigo do Rio Grande do Sul (Foto: RBS TV/Reprodução)
Filho não se escolhe, mesmo quando é fruto do nosso próprio DNA. O processo é aparentemente simples: os cromossomos da mãe se juntam com os do pai e a mistura resulta em um ser único. As particularidades, porém, podem variar de um olho verde a uma má formação ou doença congênita – não há como prever.

Então, por que o sistema de adoção funciona como a prateleira de um supermercado, onde é possível escolher o produto que se quer?

A resposta, segundo uma das autoras do guia digital "Três vivas para adoção", que será lançado em Brasília nesta sexta-feira (25), é que muitos mitos ainda pairam sobre a questão. Especialmente, quando as crianças fogem do perfil mais procurado: brancas, com menos de 3 anos, sem irmãos e "saudáveis".

Em 118 páginas, o e-book orienta mulheres, homens e casais que desejam adotar pela perspectiva de quem fugiu do padrão majoritário. Há depoimentos de famílias, de uma "mãe social" (que cuida das crianças em um abrigo), de um juiz e de uma jovem adotada que é portadora do vírus HIV desde o nascimento.

Crianças disponíveis para adoção (Foto: Caio Kenji/G1)
"Sou primariamente uma pessoa que tem apoio e carinho familiar e que têm ambições, mas também sou a pessoa que passou por um processo adotivo e tem HIV. Ambas faces fazem parte do meu ser com a mesma naturalidade", diz o relato da adolescente.

"Três Vivas para a Adoção" é resultado da parceria do Movimento de Ação e Inovação Social (que compreende o Movimento Down e o Movimento Zika) com a Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção (Angaad), a ONG Aconchego, a Fundação Ford, o Conselho Nadional de Justiça, a Associação Brasileira dos Magistrados da Infância e da Juventude e o Fórum Nacional de Justiça Protetiva.

Capa do guia "Três vivas para a adoção! Guia para adotantes", escrito por Fabiana Gadelha e Patrícia Almeida (Foto: Três vivas para a adoção/Reprodução)
No Distrito Federal, das 512 famílias habilitadas para adoção, apenas 37 estão dispostas a conhecer uma criança com mais de 2 anos, segundo dados da Vara da Infância e da Juventude. Quando o perfil assume outras características, como algum tipo de deficiência, o índice de rejeição tende a aumentar.

"Esse perfil ideal não existe. Não existe garantia de saúde nem na gravidez. Esse é o erro", explica a advogada e ex-presidente da ONG Aconhego Fabiana Gadelha, que assina o guia juntamente com a fundadora do Movimento Down, Patrícia Almeida. "As pessoas têm que parar de achar que vão escolher o filho perfeito e ele não vai ter problema."

Passo a passa da adoção no guia "Três vivas para a adoção", escrito por Fabiana Gadelha e Patrícia Almeida (Foto: Três vivas para a adoção/Reprodução)
Para se preparar para os desafios da adoção, o guia também contém o passo a passo de como dar entrada no processo, e explicações sobre a "busca ativa" – quando ONGs e instituições do governo se juntam para viabilizar o encontro de famílias e crianças a partir de cadastros informais de todo o país.

Passo a passa da adoção no guia "Três vivas para a adoção", escrito por Fabiana Gadelha e Patrícia Almeida (Foto: Três vivas para a adoção/Reprodução)
Adoção necessária
As "adoções necessárias" são a maior motivação do guia. Elas compreendem todas as crianças que têm dificuldade para encontrar uma família, porque estão fora do perfil mais procurado.

São meninos e meninas com mais de 3 anos, negros, com síndrome de Down, soropositivos, com algum tipo de deficiência, paralisia cerebral e outras doenças congênitas, e com um ou mais irmãos.

Este grupo representa cerca de 90% de todas as crianças disponíveis para adoção na capital federal e também maioria dos meninos e meninas que crescem nos abrigos do Brasil. Só em Brasília, dos 117 meninos e meninas que esperam por uma família, 78 são pré-adolescentes e adolescentes, com idade entre 10 e 18 anos incompletos.

O guia online cumpre um papel importante de conscientização "para mostrar que estas crianças são filhos possíveis", diz Fabiana.

Chegar ao ponto de aceitar uma criança como ela for, às vezes, passa por um longo processo de espera pelo "filho ideal" e de reflexões profundas sobre o sentido da adoção, diz Fabiana.

Criança disponível para adoção em Mato Grosso (Foto: Jana Pessôa/Setas-MT)
"Na gravidez, pode dar tudo certo e, mesmo assim, ele nascer com alguma deficiência. Ou pode nascer saudável e adoecer, isso faz parte", diz a advogada que é mãe de três filhos, sendo dois meninos adotados – Arthur, de 7 anos, e Miguel, de 9, que tem síndrome de Down.

"Quando o adotante tem conhecimento que é possível ter um filho com HIV, sem braço, com deficiência, que vem com outros dois ou três irmãos. Uma criança que tem 5, 6 , 7, 12 anos, ele amadurece e se fortalece para enfrentar as adversidades."

"Na adoção você não quer a garantia de nada, é uma questão de escolha. Quando o filho chega, a entrega é a mesma que se ele fosse biológico."

O mito dos 'vícios'
Os hábitos adquiridos nos primeiros anos de vida, com a família biológica ou na casa de acolhimento, são o principal argumento de quem recusa a adoção de crianças com mais de 3 anos. "As pessoas acham que uma criança maior vai vir cheia de 'vícios', maus hábitos", explicou Fabiana ao G1.

Adoção em Mato Grosso (Foto: Leandro J. Nascimento/G1)
Segundo ela, que trabalha na ONG Aconchego há cerca de dez anos, as crianças maiores têm consciência da própria condição de vulnerabilidade e solidão e isso pode ser um facilitador no processo. "Se ela se propuser a pertencer àquela família, ela vai chegar inteira."

'Filho não é produto'
As crianças disponíveis para adoção no Brasil não foram fabricadas em uma esteira de produção ou trazidas por uma cegonha. Todas elas têm histórias próprias e bagagem familiar, que variam conforme as circunstâncias onde nasceram ou foram criadas até chegar ao abrigo.

"As crianças podem ser frutos de violência, do uso de álcool e drogas, de pais que estavam em depressão ou com alguma questão de vulnerabilidade. Claro que elas vão ter uma perspectiva de vida diferente", explica Fabiana.

Este histórico, porém não deveria ser um empecilho à adoção. "Posso fazer tudo bacana na gravidez, tomar todas as vitaminas e essa criança ter problemas de aprendizado. Não tem a ver só com genética."

Por Luiza Garonce, G1 DF, em 25/05/2018

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